60º Congresso de Ginecologia e Obstetrícia da Febrasgo – CBGO 2022

Dados do Trabalho


TÍTULO

Úlcera de Lipschütz em paciente com 11 anos de idade sem atividade sexual prévia: Relato de Caso

CONTEXTO

O diagnóstico da úlcera de Lipschütz é clínico e desafiador, uma vez que ela não possui etiologia infecciosa e é um diagnóstico diferencial raro de ulceração genital. Além disso, por acometer na maioria dos casos pacientes jovens, essa doença pode ocasionar impacto emocional pela suspeita de etiologia de transmissão sexual.

DESCRIÇÃO DO(S) CASO(S) ou da SÉRIE DE CASOS

Paziente com 11 anos, sem atividade sexual prévia ou comorbidades, procura o consultório de ginecologia com queixa de prurido e dor vulvar com início há 6 dias, associado a piora progressiva dos sintomas ao longo do tempo de evolução da doença. Refere surgimento da sintomatologia após resolução de quadro viral compatível com dengue, história epidemiológica positiva devido região de moradia apresentar fatores de risco para tal doença tropical e ter vizinhos com manifestações de dengue no mesmo intervalo de tempo. Ao exame físico foram identificadas 3 úlceras em topografia de grandes lábios e 1 no intróito da vagina, a maior delas media 1 cm no maior diâmetro, todas eram rasas, com bordas bem delimitadas e fundo granuloso, com discreta quantidade de secreção purulenta. Ausência de úlceras em cavidade oral ou em outras topografias do corpo, não foram identificadas linfonodomegalias. Realizado teste terapêutico inicial com azitromicina (abordagem sindrômica de úlcera genital) por 3 dias, com melhora pouco expressiva das lesões. Foram colhidas amostras das úlceras com cotonete para avaliação citopatológica e microbiológica. As lâminas foram avaliadas pelas colorações de Gram e Papanicolau e o exame revelou flora bacteriana normal com predomínio absoluto de lactobacilos, ausência de malignidade ou evidências de infecção por herpesvírus, inflamação intensa (mais de 30 neutrófilos para cada célula escamosa) e alterações regressivas inflamatórias em células escamosas. Paciente evoluiu com melhora espontânea das lesões após 3 semanas do surgimento inicial.

COMENTÁRIOS

Apesar de rara, é relevante o conhecimento das manifestações clínicas e histológicas da úlcera de Lipschütz, uma vez que tem quadro doloroso e diagnóstico desafiador, de exclusão, fazendo diagnóstico diferencial com úlceras infecciosas (sífilis, cancro mole) ou autoimunes (Behçet). Nota-se associação com quadros virais, inclusive foi descrita relação com COVID-19, o que torna essencial uma anamnese criteriosa. É importante ressaltar a suspeita de violência sexual como hipótese de causas sexualmente transmissíveis de ulceração em crianças e adolescentes, devendo ser criteriosamente descartada.

Área

GINECOLOGIA - Infância e Adolescência

Autores

Izabella Cardoso Lara, Chiara Musso Ribeiro de Oliveira Souza