60º Congresso de Ginecologia e Obstetrícia da Febrasgo – CBGO 2022

Dados do Trabalho


TÍTULO

Úlceras genitais agudas e COVID-19: relato de uma apresentação incomum

CONTEXTO

A úlcera de Lipschütz (UL) caracteriza-se pelo aparecimento súbito de úlceras vulvares e vaginais, frequentemente precedida por infecções, sem etiologia completamente esclarecida. Descreve-se aqui raro caso de UL precedida por infecção pelo SARS-CoV-2. O presente relato foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o CAAE 59439022.9.0000.0102.

DESCRIÇÃO DO(S) CASO(S) ou da SÉRIE DE CASOS

C.E.Z, sexo feminino, 47 anos, casada, comparece à consulta devido lesões vulvares, iniciadas há 6 dias, acompanhadas de dor vulvar intensa, provocando dificuldade de deambulação, febre, hiporexia, aftas orais, cefaleia, disúria e diarreia. Apresentou, 28 dias antes, quadro leve de COVID-19, confirmado por teste de RT-PCR, sem uso de medicações. Recebeu três doses do imunizante contra SARS-CoV-2. Ao exame físico, observou-se múltiplas pequenas úlceras vulvares bilaterais, eritematosas, fundo limpo e bordos irregulares, linfadenopatia inguinal dolorosa bilateral e lesões aftosas em mucosa oral. Solicitadas sorologias para sífilis, HIV, vírus Epstein-Barr, citomegalovírus, herpesvírus, hepatites B e C, todas não reagentes. Hemograma, avaliação de funções hepática e renal sem anormalidades. Iniciada corticoterapia sistêmica por 7 dias, com melhora importante dos sintomas, além de regressão significativa das lesões. No 15º dia, as lesões apresentavam aspecto cicatricial e eram assintomáticas.

COMENTÁRIOS

A COVID-19 possui diversas apresentações, com destaque para o aparecimento de lesões vulvares em período peri e pós-infecção. A UL inclui o desenvolvimento agudo de úlceras eritematosas dolorosas em vulva, de tamanhos variados, em padrão espelhado, base fibrino-purulenta, acompanhadas ou não de necrose central e edema. O quadro é mais comum em adolescentes, sem vida sexual ativa ou história de autoimunidade, e autolimitado, podendo ser necessário o uso de sintomáticos e corticoterapia. Para avaliação de casos suspeitos, é fundamental afastar etiologias infecciosas e autoimunes. No caso descrito, o diagnóstico de UL, possivelmente relacionada com infecção pelo SARS-CoV-2, foi aventado devido à exclusão de outras causas comuns da condição, e corroborado pelo critério temporal de surgimento das lesões. Atualmente, existem poucos casos relatados de UL após COVID-19, no entanto, comparativamente, no caso acima foi observado tempo menor de recuperação das lesões e sintomatologia mais branda. Faz-se necessário que casos de úlceras genitais relacionadas à COVID-19 sejam descritos, para melhor elucidação diagnóstica de casos futuros.

Área

GINECOLOGIA - Patologia do Trato Genital Inferior

Autores

Marcella Dellatorre Pucci, Anna Luiza Maffessoni, Naura Tonin Angonese, Rita Maira Zanine